A homilia da posse canônica de Dom Bruno
Confira como foi, na íntegra, a primeira fala do novo bispo de Ponta Grossa
12.08.2024 - 19:23:43

Em primeiro lugar quero agradecer imensamente a Dom Sergio Arthur Braschi que por 21 anos que esteve à frente, como um Bom Pastor, conduzindo o povo de Deus desta Diocese. Muito obrigado Dom Sergio! Deus o conserve com saúde para que na medida do possível continue servindo ao Senhor e sendo um farol na missão evangelizadora desta diocese. Quero agradecer a Dom José Antônio Peruzzo, nosso Arcebispo que fez a abertura desta celebração eucarística. A Dom Geremias Steinmetz, Arcebispo de Londrina e presidente do Regional Sul 2 e por ele agradeço imensamente a presença de todos os arcebispos, bispos, padres, diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas e todo o povo de Deus. Permitam-me também fazer referência aos padres, diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas e todas as pessoas que vieram da diocese de Campo Mourão, aonde vivi por sete anos meu ministério episcopal. Agradeço também meus irmãos, cunhados e sobrinhos pela presença nesta celebração.
Quero agradecer a presença da Excelentíssima Elizabeth Schmidt prefeita desta cidade e por ela agradecer as demais autoridades aqui presentes.
Quero acolher nesta celebração aqueles que nos acompanham pelos meios de comunicação social: rádio SantAna...
Nestes dias estamos acompanhando as olimpíadas de Paris. Uma das modalidades marcantes pelo espírito de equipe no atletismo é a “corrida do bastão”. O primeiro corre, dá o melhor de si, passa o bastão para o outro, que também corre, dá o melhor de si, passa o bastão para o outro e assim até a meta final. O resultado é fruto do esforço de toda a equipe.
Como nossa diocese se prepara para celebrar o jubileu do centenário de sua criação (10-5-1926) quero fazer memória aos bispos que estiveram a frente da missão evangelizadora nesta diocese.
A partir desta imagem eu gostaria de lembrar daqueles que conduziram o “bastão” até aqui e que hoje o Dom Sérgio entrega em minhas mãos.
1° bispo: Dom Antônio Mazzaroto: 1930 até 1965;
2°Bispo: Dom Geraldo Micheleto Pellanda: 1965 até 1991;
3° Bispo: Dom Murilo Sebastião Ramos Krieger: 1991 até 1997;
4° Bispo: Dom João Braz Avis: 1998 até 2003
5° Bispo: Dom: Sergio Arthur Braschi: 2003 até 2024;
(agora o “bastão” chegou em minhas mãos)
6° Bispo: Dom Bruno Elizeu Versari. 10 de junho de 2024 em diante;
Os auxiliares: Dom Getúlio Teixeira Guimarães: 1981 até 1984
Dom José Alves da Costa: 1986 até 1991.
Deus recompense cada um e continue nos iluminando nesta missão de conduzir o seu povo.
Desejo fazer uma partilha a partir da Palavra de Deus proposta para esta celebração litúrgica.
A Palavra de Deus para este dia apresenta duas imagens do campo. A imagem do profeta Ezequiel do capítulo 34 de Deus que se apresenta como um pastor de ovelhas. A outra imagem é do Evangelho de São João do capítulo 15, ‘A videira e o agricultor’.
Quero propor uma reflexão a partir dessas duas imagens:
O profeta Ezequiel descreve Deus como o pastor que segue atrás da ovelha que se perdeu. Quem na vida já teve que ir atrás de um animal que se perdeu, vai seguindo o rastro deixado no chão até encontrar, o desfecho provoca muita alegria. Deus é assim, vai seguindo o rastro deixado pela ovelha. Ele mesmo vai atrás, até encontra-la e reconduzi-la no caminho (Jo 15,16). Isso também provoca alegria.
Essa foi a missão assumida por Jesus e no final de sua vida confiou a seus apóstolos e discípulos e hoje é confiada a nós.
Certos de que não estamos sozinhos nesta empreitada, confiamos que o Espírito Santo é quem conduz a Igreja e suscita pastores para serem colaboradores nesta grande missão. A mesma missão de Jesus.
Através do tempo e da história a Igreja foi aperfeiçoando na missão de responder aos desafios de cada tempo. Quero fazer referência a nossa querida CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) que tem se preocupado em propor caminhos e orientações seguras aos fiéis. No documento 107 sobre a “Iniciação à Vida” (maio de 2017) no número 222 encontramos este grande desafio. “Chegar aos adultos batizados e não suficientemente evangelizados, mas que desejam retornar seu caminho de fé”. Gosto muito do texto do evangelho de são João no capítulo 4, que este mesmo documento propõe como inspiração. O encontro de Jesus com a Samaritana. No número 198 do documento diz assim: “Os samaritanos creram em Jesus por causa da palavra da mulher que testemunhava (Jo 4,39). A fé em Jesus Cristo nasce de um encontro, mas é preciso a intermediação de uma pessoa que o testemunhe. Esse processo requer que o itinerário iniciático respeite as diferentes situações da vida humana”.
Ir atrás da ovelha que se desgarrou e reconduzi-la ao caminho é necessário planos e estratégias. O Papa Francisco na Exortação Apostólica Evangelli Gaudium, bem conhecida em nosso meio, (ano de 2013) no número 27 diz assim: “sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo... fazer com que todas as estruturas se tornem mais missionárias. No número 33 convida-nos a sermos ousados, assim ele diz: “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: fez-se sempre assim. Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades”.
No desejo de responder aos desafios destes tempos nossa Igreja propõe uma nova evangelização através da Iniciação à Vida Cristã: catequese com inspiração catecumenal em todas as etapas da vida, também para aqueles que já caminham com a Igreja. Lembremos bem: a fé é fruto de um encontro pessoal com Jesus. A partir do encontro, testemunham e isso converte as pessoas. Lembro-me de uma frase atribuída a São Francisco de Assis: Pregue o Evangelho em todo tempo. Se necessário, use palavras. Vamos lembrar da referência acima “Os samaritanos se converteram por causa do testemunho da mulher” (Jo 4,39).
Outros recursos fundamentais são: Itinerários de catequese para adultos que desejam receber os sacramentos da Iniciação à Vida Cristã. Itinerário para os pais e padrinhos que desejam batizar os filhos e afilhados. Itinerário para os jovens que desejam viver o sacramento do matrimônio como caminho de santidade. A redescoberta da Palavra de Deus, através da leitura orante, nas comunidades eclesiais missionárias. As pastorais e muitos outros movimentos. Propostas, indicações e meios não nos faltam.
Outra imagem de Deus proposta pelo santo evangelho de hoje de João capítulo 15 é o da videira e do agricultor. “Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda” (Jo 15,2). O agricultor quando faz a poda e limpa os ramos acredita que faz isso para que as videiras possam produzir mais frutos, e também para ficarem mais resistentes e assim vencerem as intemperes do tempo e da vida.
O agricultor não sente prazer em queimar aqueles que não produzem frutos, porém se não o fizer, sua plantação vira uma mossoroca, está sujeita a se extinguir. Cuidar, e podar a videira dá a certeza que no futuro darão frutos abundantes.
Jesus também diz: “Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Não nos iludamos com as facilidades mágicas do mundo. Só em Jesus há segurança. É na Igreja que vamos encontrar ensinamentos seguros para a vivencia da fé e o encontro pessoal com ele.
Estamos vivendo o Sínodo sobre a sinodalidade convocado pelo Papa Francisco.
O Sínodo é uma experiência de discernimento espiritual, de escuta, que busca a vontade de Deus em sua Igreja; é o momento de subir à montanha da Transfiguração (Lc 9,28-36), reconhecer a identidade de Jesus, o Filho bem-amado, e escutá-Lo. Um Sínodo sobre a Sinodalidade nos convida a perguntar o que significa ser Igreja hoje e qual o seu significado na história. Na proposta de sinodalidade, existe toda uma eclesiologia que amadureceu ao longo dos anos, graças ao Concílio Vaticano II, e que se desenvolve hoje. O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática sobre a Igreja (Lumen Gentium), recordou-nos aquilo que cremos ser: Igreja, povo de Deus. Isso requer grande habilidade de escuta. Escutar Deus, na oração, na liturgia, no exercício espiritual; escutar a comunidade eclesial no trato e no debate das experiências (porque se baseia na experiência discernível, não nas ideias); escutar o mundo, porque Deus está sempre presente, inspirando, comovendo e movendo. Como afirma o Papa Francisco, “a realidade é superior à ideia” (EG 231). Temos a oportunidade de nos tornar “uma Igreja que não se separa da vida”, disse o Papa Francisco na saudação aos presentes no início do caminho sinodal (9 de outubro de 2021). O Papa sintetizou assim sua intenção: “Colocar a Igreja em estado sinodal significa torná-la inquieta, incômoda, tensa pela agitação do sopro divino, que certamente não gosta de zonas seguras, áreas protegidas, ele sopra aonde quer”. Dessa forma, abraçar o Sínodo implica ser humilde, “repensar” o próprio pensamento, passar do “eu” ao “nós”, do “individual” ao “comunitário”, abrir-se. Talvez todos nós tenhamos que sair do nosso caminho para caminharmos juntos. A própria pedagogia de Jesus se torna modelo para nós: encontrar, escutar, dialogar, discernir e agir.
“Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos” (Jo 15,7-8).
Permanecer unidos na missão da Igreja, unidos ao papa, aos bispos, ao presbitério, ao povo de Deus. Pois unidos poderemos colher alguns frutos na missão, do contrário sobra desânimo, cansaço, solidão, sensação de que não vale a pena e aí começa o isolamento, os projetos pessoais, o relativismo, o laxismo com as coisas da Igreja e com a vida de oração. A consequência disso é o sofrimento de muitos. Por isso, irmãos, padres diáconos, religiosos e religiosas se permanecermos unidos poderemos produzir alguns frutos. Do contrário entramos na lógica do mundo, estar sempre ocupados com os prazeres, com o consumismo desenfreado. Vamos lembrar o que ouvimos no santo evangelho de hoje. “Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos” (Jo 15,7-8).
Pedimos pela intercessão de Maria, Mãe da divina graça as bênçãos de Deus para todo o nosso povo da Diocese de Ponta Grossa nas 47 paróquias dos 17 municípios e que já estão se preparando para celebrar o centenário de sua criação. Vamos lembrar também a Paróquia São João Batista de Canutama na prelazia de Lábrea no estado do Amazonas. E aqueles que semearam a Palavra de Deus e construíram a história desta diocese recebam abundantes bênçãos dos céus. Amem!
Dom Bruno Elizeu Versari
Bispo da Diocese de Ponta Grossa