A Mãe que Alimenta distribui 680 marmitas
Projeto vive de doações e do trabalho voluntário
28.03.2023 - 22:00:30

“A fome
é um crime, o alimento é um direito”. A expressão contundente consta da
mensagem do Papa Francisco enviada este ano à Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade: Fraternidade e
Fome. O grande convite que a Campanha nos faz - ‘Dai-lhes vós mesmos de comer!’
– é vivenciado desde setembro de 2020 por um grupo de voluntários da Paróquia
São Sebastião/Santuário Diocesano de Nossa Senhora Aparecida, em Ponta Grossa.
O que começou, sem pretensão alguma, para servir de 100 a 200 marmitas por
semana, hoje, distribui 680 pratos de comida. Até dezembro, eram 850 marmitas.
O projeto social A Mãe que
Alimenta serve no horário do almoço de todas as segundas-feiras, uma refeição a
pessoas em situação de rua e gente em estado de vulnerabilidade social, todas
com cadastro prévio. Um grupo de 50 voluntários, entre os que participam da
paróquia, não católicos e adeptos de outras religiões, trabalha na arrecadação,
transporte e separação dos alimentos, além de produzir e distribuir as
marmitas. “Como aqui é um santuário diocesano, vem gente de outros pontos da
cidade para cá. E de onde eles vêm não interessa. Alguns vêm a pé lá do
Bonsucesso. Um senhor caminha quatro horas para chegar”, conta a coordenadora
do projeto, que, a exemplo da maioria dos voluntários, prefere manter o
anonimato.
“O nosso gesto é muito
simples dentro de todo contexto social ao qual a pessoa carente está inserida,
mas, mesmo um gesto simples, para quem tem tão pouco ou nada, alivia o coração
e o peso da caminhada. Sabemos que quem tem fome não espera, e, como irmãos em
Cristo, somos chamados a fazer mais pelo nosso próximo. A caridade enche de paz
o coração de quem a pratica e de quem a recebe também. Todos que estão aqui são
ajudados a serem pessoas melhores. E quanto mais doamos, mais, entra mais
doação. É a mão de Deus”, diz, citando que as doações são feitas na missa, na
secretaria paroquial e, até, na casa das pessoas que trabalham no projeto. “Às
vezes, na missa, deixam um pacote de sal, como já aconteceu. É quem tem muito
pouco ajudando que tem menos ainda”.
E tudo que vem é
aproveitado. Os quilos de alimentos são separados para compor cestas básicas,
entregues a pessoas cadastradas e visitadas pela equipe. Algumas são repassadas
a equipe dos Vicentinos para que façam a distribuição. As doações em maior
quantidade são usadas na produção das marmitas, afinal, são cozidos,
semanalmente, 60 quilos de arroz, 35 quilos de feijão, 100 quilos de massa de
linguiça e preparados 85 quilos de batata. Um empresário, dono de uma casa de
hortifrutigranjeiros, ajuda com verduras, cebola e alho. Outro, doa as
embalagens para as marmitas. O espaço para a produção, a água e a luz são por
conta da paróquia/santuário. “Recebemos também doações das paróquias, como a
São João Paulo II, a São José e a São Pedro e São Paulo, de Telêmaco Borba. O
dinheiro, quando é doado, nos ajuda a pagar o gás. Dois botijões de 45 quilos
não são suficientes para fechar o mês. Mas, é o que eu digo para o nosso
pessoal, enquanto nos ajudarem estaremos firmes!”.
O pároco da São Sebastião
e reitor do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, padre Nelson Bueno da Silva
lembra que a Igreja sempre trabalhou o lado social. “Como disse dom Orlando
Brandes: Bíblia na mão, pé no chão’. A Igreja nunca deixou de olhar o lado social
das pessoas não por uma questão política, mas para atender os ‘pequenos’ sem
voz, sem vez. E é isso que a gente faz. Alimento, dom de Deus; direito de todas
as pessoas. O trabalho da paróquia não para na questão do alimento, mas também
envolve muitos outros encaminhamentos. Matar a fome é por ora. A dignidade da
pessoa vai muito além”, destaca, referindo-se ao atendimento que é feito pelo
grupo de voluntários a enfermos, idosos e crianças, encontrados nas casas das
famílias acompanhadas pelo projeto.
Roberto
Chriestensen é um dos voluntários. “É gratificante. Há um ano que participo. É
uma satisfação enorme ver a alegria deles. Parece tão pouco, mas para eles é
muito. E como é no início da semana (a distribuição), a gente acaba
passando a semana bem, melhor ainda”, enaltece. A moradora do Jardim Gralha
Azul, Nilceia Vaz Lenhart, é atendida pelo projeto desde 2021. Ela ganha seis
marmitas toda segunda-feira, para ela, o marido, três filhos e o genro. “Gosto
muito das marmitas. Vem bem cheio. Meu marido trabalha durante todo o dia, e, à
noite, ele come. Às vezes, divido também com outras famílias o que levo daqui”,
ressalta.