Barco doado pela Diocese chegou em Canutama
Paróquia da Amazônia recebeu o presente dado a Dom Sergio
25.07.2024 - 17:56:02

Um sonho realizado. Um presente entregue. Depois de um ano e quatro meses do pedido feito pelo, hoje, bispo emérito Dom Sergio Arthur Braschi para ganhar pelos seus jubileus dinheiro para a compra de um novo barco para a Paróquia São João Batista, de Canutama, na Prelazia de Lábrea, no Amazonas, a embarcação finalmente chegou à comunidade. O barco levou dez meses para ficar pronto e foi construído sob medida: 17m x 5,5m com dois quartos, dois banheiros, cozinha, copa, que também servirá de redário, wi-fi...um espaço para até 50 pessoas. O custo final, com motor e todos os equipamentos de navegação, energia solar, mobília e utensílios domésticos, foi de aproximadamente R$ 810 mil.
São dois banheiros sociais, dois quartos com banheiro, com capacidade para duas pessoas cada um. Em cima, há um espaço aberto para redes. O barco será utilizado para visitas pastorais nas comunidades ribeirinhas, com celebrações e formação, bem como transporte de agentes pastorais para encontros, formações, reuniões. A primeira viagem será no início de agosto, para a desobriga e o transporte da imagem peregrina de Nossa Senhora de Nazaré até Pauiní, distante 810 quilômetros de Canutama, por ocasião das comemorações do centenário da Prelazia.
“Não sabíamos quanto ia dar o ‘presente’ (a Dom Sergio). Por isso, não sabíamos com que tamanho de barco sonhar nem com que material seria possível de se fazer. Foi assim que há um ano veio o resultado de um grande valor arrecadado. Quando eu vi na transmissão da Santa Missa de encerramento da Assembleia Diocesana o padre Jaime (Rossa) comunicando o valor, eu chorei muito. A emoção era enorme por saber que o sonho tão distante, agora, se tornaria realidade. Fui para Manaus para procurar um barco pronto ou a possibilidade de se fazer um barco sob medida para nós. Encontrei um lugar que fez um valor que cabia exatamente no orçamento e começamos a construção”, contou padre Fábio Sejanoski, pároco da São João Batista.
Depois de dez meses de trabalhos, chegou o dia de ir buscar o barco. “Reunimos uma equipe de seis comandantes para poder pilotar dia e noite. Aliás, são cerca de 1.290 quilômetros de rio e cerca de cinco dias de viagem. Tudo estava muito bom, barco mobiliado, grande, bonito. Porém, cerca de dez horas depois que saímos, tivemos um problema na mangueira de óleo, que fez com que o motor trabalhasse por um tempo sem óleo. Resultado: danificou o motor e nossa viagem teve que ser interrompida. O barco teve que voltar para Manaus para fazer a retífica do motor e nós tivemos que voltar para Canutama em outro barco. Foi muito triste, um tanto decepcionante viver esta experiência de ter que voltar sem o barco. A sensação foi de ter ido ao hospital ganhar um filho e voltar para casa sem ele porque foi levado para UTI. O povo de Canutama estava esperando super ansioso e, quando recebeu a notícia, ficou muito triste também. Porém, não faltaram manifestações de carinho e apoio, dizendo que tudo acontece no tempo de Deus. E deu para ver a manifestação de Deus em tudo isso. Os problemas que deram no barco sempre aconteceram próximos a povoados ou municípios, onde tinha alguém perto para nos dar socorro”, destacou padre Fábio.
“Para mim, particularmente, foi o momento novamente de experimentar o amor de Deus que, muitas vezes, vem de maneira muito exigente. Mesmo diante de toda a dor eu sempre agradecia a Deus por ele ter colocado pessoas ao meu lado que me deram forças suficientes. Enfim, um mês depois, onze meses do início da construção, chegou o dia de irmos buscar o barco e trazer até Canutama. No dia 14 de julho, às 6h23 da manhã, o motor foi acionado e começamos a viagem. Nove pessoas a bordo para que tudo ficasse bem. E a viagem se deu na mais perfeita paz. Depois de 108 horas de viagem (cinco dias e quatro noites) chegamos em Canutama. Praticamente, a cidade inteira foi na orla ver a chegada do barco. A comunidade católica fez faixas, soltou fogos e, em meio a canções, entoavam emocionados ‘Graça Divina, Graça Divina’...Foi com esse nome que o barco foi batizado”, lembrou o pároco.
Padre Fábio ressaltou que, para além de uma embarcação, o que aconteceu neste último ano foi que muitas pessoas se tornaram missionárias, contribuindo financeiramente para esse projeto. “Muitas outras pessoas se tornaram missionárias porque rezaram pela missão. Muitas pessoas viveram esse sonho junto conosco. Muitas pessoas torceram e vibraram com cada conquista. E o que vai acontecer a partir de agora é que esse barco proporcionará que mais vezes as comunidades ribeirinhas sejam visitadas, que mais pessoas possam se deslocar com segurança para formações, celebrações e encontros. E muitos leigos de Canutama vão se tornar também missionários, pois, irão com o barco dar formações e fazer celebrações com o povo ribeirinho. Com a graça divina o ‘Graça Divina’ está no meio de nós para ser nosso transporte, nossa casa, nossa capela e nosso local de encontro. Penso, também, que esse barco não é um benefício apenas para Canutama. Será sim uma oportunidade de que toda a Prelazia, na medida da necessidade, faça uso também deste barco”, argumentou.
O sacerdote está na missão em Canutama há 2 anos e meio. “Muita coisa aprendi por aqui e continuo aprendendo. Louvo a Deus a cada dia por ter me dado essa chance de aqui fazer esta experiência maravilhosa. E esse projeto e conclusão deste barco me ensinaram muitas coisas que vão muito além de um objeto material. Muitas pessoas poderão fazer a experiência da graça divina através dos missionários que irão no Graça Divina”, observou.
Sonho
O sonho do novo barco começou a ser sonhado por três padres: José Nilson Santos, Osvaldo Pinheiro e Fábio Sejanoski, quando a Diocese de Ponta Grossa assumiu a administração da paróquia. “Quando estava na paróquia, já se começou a pensar em barco novo. Estou muito contente por, de alguma forma, ter feito parte também dessa conquista, como alguém que esteve lá na Amazônia, na missão em Canutama em 2020 e 2021. Quando chegamos, era tempo de pandemia, tempos difíceis. Aos poucos, fomos nos dando conta de toda a realidade da paróquia, das necessidades mais urgentes. Lembro que padre Osvaldo (Pinheiro) e eu víamos a necessidade de a gente adquirir um barco para a missão pelo o que a gente escutava das pessoas, dos missionários locais e pelo que experimentamos quando viajamos com o barco Katauxi II. Eu mesmo passei, algumas vezes, momentos perigosos com a precariedade do barco. Não pelo motor só, mas calafetações e infiltrações de água. A situação era bem delicada”, testemunhou padre José Nilson.
O padre foi para Manaus, em 2021, e, lá, conversou com um engenheiro naval, indicado pelo frei João Cruz, agostiniano, pároco da Paróquia Santa Rita, em Manaus. “Fiquei na casa dos freis para um checkup médico e fiz uma primeira sondagem com o engenheiro Alberto Coelho. Visitei alguns portos, estaleiros, vi ferry boats à venda, mas eram muito caro. O engenheiro sugeriu, passou plantas de ferry boats, para que fizéssemos um barco conforme as necessidades da missão. Tirei muitas fotos, fiz um relatório e, a partir daí, padre Osvaldo começou a idealizar a iniciativa, envolvendo a paróquia, a Diocese e a Prelazia. Nasceu a ideia de contar com a ajuda dos diocesanos. Depois, o padre Fábio chegou e foi solidificando melhor a ideia da campanha do barco. Foi muito bonita”, detalhou padre Nilson, que, de volta à Diocese, na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Irati, incentivou as doações, motivando o Setor 7 a dar uma boa contribuição, especialmente, pela presença dele, do padre José Lauro Gonçalves (o primeiro sacerdote missionário em Lábrea e, na época, vigário na paróquia iratiense) e por padre Fábio ser nascido em Irati. “O Setor 7 deu uma resposta muito bonita nessa campanha. Parabéns a todos! “, frisou.
Padre Osvaldo Pinheiro foi quem teve a ideia do novo barco, enquanto ainda era pároco na São João Batista. Esteve à frente do projeto durante meio ano. “A missão junto aos ribeirinhos e o deslocamento depende muito do barco. Para as pastorais, um retiro, confraternizações...o barco não atendia essa necessidade. Não era nada seguro e não tinha conforto algum. Também tornava a missão mais lenta. Com a graça de Deus e iniciativa da Diocese, tivermos essa contribuição e o barco foi pensado para que fosse prático, confortável e seguro. Acredito que isso foi possível graças ao padre Fábio, que pegou a maior parte dessa missão, no diálogo com pessoal do estaleiro”, relembrou o primeiro administrador, depois da passagem da paróquia à Diocese. “Fico muito feliz pela comunidade, que ganhou esse barco, que ajudará com uma participação mais ativa, um envolvimento maior na missão. Gratidão a todos os diocesanos que abraçaram essa iniciativa”, comentou o padre.
Ajuda
O bispo da Prelazia de Lábrea, Dom Santiago Sànchez Sebastian, comentou que há tempos a paróquia sonhava com um barco novo. “Não que a embarcação que tinham não era boa, mas era pequena, quente, baixa. Procuravam os nossos sacerdotes uma melhor embarcação para fazer as desobrigas, as viagens missionárias. Como filhos da Diocese de Ponta Grossa, pediram ajuda e o primeiro voluntário que abraçou a causa foi o bispo emérito Dom Sergio. Ele no seu jubileu não quis nada e tudo o que pudesse receber fosse para a missão e, concretamente, para o novo barco. Lutas, tempo, fazer os planos, iniciar a construção....A coisa foi demorando e o padre Osvaldo, que era a alma do projeto, terminou seu tempo. Coube ao padre Fábio continuar a obra. Agora, por fim, vê-se cumpridas todas as esperanças, todos os projetos. Parabéns a toda a Diocese de Ponta Grossa por abraçar a causa, por tudo o que fizeram para que esse sonho fosse realidade. Parabéns ao povo de Canutama por receber esse presente. Parabéns por estarem trabalhando com todo o carinho, todo empenho, toda força nessa nossa tarefa missionária da nossa Prelazia!”, frisou.
O coordenador de Pastoral da Prelazia, padre Éder Carvalho Assunção, enalteceu a aquisição. “Com o auxílio providencial da Igreja-Irmã de Ponta Grossa, a comunidade paroquial de Canutama, através dos padres Osvaldo e Fábio, construiu este sonho missionário chamado ‘Graça Divina’. Somente uma paróquia voltada para as comunidades ribeirinhas e indígenas é capaz de dar este passo gigantesco na otimização do serviço missionário. Nossa gratidão ao povo de Ponta Grossa, que com carinho abraçou a comunidade paroquial de São João Batista.
Presente
Segundo relato de padre Fábio, o barco em Canutama, bem como em praticamente toda a Prelazia de Lábrea, é uma necessidade. Por lá, não se chega e nem se sai por terra ou pelo ar. O rio é a única maneira de acesso. Neste sentido, ter um barco é muito mais do que necessário. A Paróquia São João Batista, assim como outras paróquias da Amazônia, tinha um barco que, além de fazer o transporte dos missionários, tornava-se como que uma casa, onde se morava por semanas nos tempos de desobriga. Além disso, sair para viajar, muitas vezes, requer dias navegando.
O barco por muito tempo serviu a paróquia. O Katauxi tem muita história pra contar. Anos e anos de missão. Porém, como é feito de madeira, com o passar dos tempos, foi se deteriorando e necessitando cada vez mais de reformas. Também se tornou pequeno tendo em vista a necessidade de um maior número de missionários leigos em visitas às comunidades. Nos últimos dois anos e meio, houve pelo menos dois sustos, quando foi tomado pela água, onde está o motor e correndo sério risco de afundar. Nas duas ocasiões, foram tomadas providências rápidas, conseguido retirar a água e seguir viagem. A partir daí, a necessidade de um barco mais seguro (ferro ou alumínio) tornava-se mais evidente.
No início de 2023, padre Fábio foi de férias para Ponta Grossa e começou a conversar com Dom Sergio, padres Mário Dwulatka, Joel Nalepa e Leonel Stanski. Orientado pelos padres, padre Fábio visitou todos os Setores da Diocese, além de ter participado da reunião dos padres diocesanos e da reunião geral do clero. Ali, colheu ideias do que se poderia fazer para conseguir um valor possível. No fim de todo esse percurso, tinha-se o ideal de que todas as paróquias dessem um presente para Dom Sergio, por ocasião do seu ano jubilar. O ‘agrado’ seria revertido para Canutama, além de 12 contribuições mensais de todas as comunidades.
Foi em março que Dom Sergio pediu o presente aos diocesanos para festejar os 25 anos de sua ordenação episcopal, os 20 anos como bispo de Ponta Grossa, os 50 anos como padre e 75 anos de vida. A campanha foi até julho. Seu resultado foi anunciado durante o encerramento da XV Assembleia Diocesana. Foi arrecadado junto às paróquias, comunidades religiosas, movimentos e associações católicas R$ 404.601, 48. As paróquias ainda pagaram, em 12 mensalidades, um valor que chegou a cerca de R$ 300 mil. O total enviado pela Diocese chegou a R$ 716 mil aproximadamente. Além disso, as Pontifícia Obras Missionárias ajudaram ainda com mais R$12 mil.