Dia de Finados, dia de esperança
Em sua homilia, o bispo Dom Sergio lembrou a fé na ressurreição
02.11.2023 - 19:51:30

“O dia de hoje é um dia de saudade, um
dia que repassa, às vezes, um sentimento de tristeza, lembrando nossos
falecidos, visitando cemitério, rezando a Santa Missa na igreja, mas deve ser
também um dia renovar a esperança. Sabemos que aqueles que partiram também hão
de ressuscitar, como nós também. De maneira que, um dia, estaremos com Cristo e
participaremos de uma vida que não tem fim”, refletia o bispo Dom Sergio Arthur
Braschi, ao fim da celebração de hoje (2) pela manhã, no Cemitério Parque
Jardim Paraíso, em Ponta Grossa. Finados é um dia de esperança para os que têm
fé, ressaltava. “Nós cristãos, católicos e evangélicos, que temos fé na
ressurreição de Cristo e na promessa Dele que também nós vamos participar dessa
ressurreição”.
Durante todo o dia de
hoje, milhares de pessoas passaram pelo cemitério parque, que é administrado
pela Diocese de Ponta Grossa. Gente que, além de visitar os túmulos dos
falecidos, prestar sua homenagem com flores, também puderam fazer suas orações,
acender velas no cruzeiro e participar da Santa Missa. Foram duas. Uma pela
manhã, com Dom Sergio, e outra à tarde. Oito padres e diáconos acolheram os
fiéis, conversando e atendendo confissões. “O encontro com o momento da morte,
recordado no tempo de Finados, faz com que a gente também se posicione na vida.
É importante fazer uma avaliação de como eu estou vivendo: se eu estou vivendo
bem, ótimo! Pedindo a graça de Deus para a perseverança no propósito de viver
bem. Se eu não estou, é o momento de se reconciliar com Deus e, essa
reconciliação, na Igreja Católica, se faz através da confissão. É uma
oportunidade de poder se encontrar com Deus, consigo mesmo. Muito importante
esse Dia de Finados unido ao Sacramento da Penitência”, avaliava pare Mário
Dwulatka.
Paulo César dos Santos,
que frequenta a Paróquia Bom Jesus, veio ao cemitério e aproveitou para
confessar. “É um momento de lembrar as pessoas que conviveram com a gente.
Também lembrar da nossa fé na ressurreição. Por isso, essa oportunidade de se
reconciliar, buscar novos caminhos, caminhar da maneira correta para que
possamos alcançar essa graça de estarmos face a face com Jesus. Na confissão,
podemos avaliar a nossa conduta, nossa caminhada. Muitas vezes, a gente, por
conviver em um mundo turbulento e diferente, de tantas informações que a gente
tem hoje, nos desgarramos e as coisas erradas passam a ser comuns na vida da
gente. Esse é o momento de refletir se estamos fazendo boas escolhas na nossa
caminhada”, explicou.
Ao lado do marido, Maria
Elizete Coelho Vieira, contava que vem ao cemitério, toda segunda-feira,
“render” orações pelos antepassados. “Hoje, é um dia especial, dia em que todos
fazem orações e vem homenagear os integrantes das nossas famílias que já se
foram e de quem sempre estamos lembrando. É uma forma de lembrar, guardar na
memória, agradecer a vida que temos hoje, as coisas que passamos e que eles
também passaram. Enquanto estivermos aqui precisamos fazer orações para que
tenham um lugar melhor, o descanso eterno”, aconselhava a paroquiana da
Imaculada Conceição, de Ponta Grossa.
O Cemitério Parque Jardim
Paraíso ficou aberto das 7 às 18 horas. Estão sepultados no campo santo os
padres Olímpio Júlio Sales Mourão, Estanislau Kapuscinski, Márcio Milek
Marques, Alceu Maders, além de religiosas.
Luto
Ao final da celebração da
manhã, a psicóloga Inês Grochowski, refletiu sobre
o momento do luto durante a pandemia do Covid, quando, segundo ela, as
pessoas viveram situações muito conflituosas e lutos muito difíceis de serem
elaborados. Contou que o atendimento oferecido por ela, por intermédio da
direção do cemitério parque, iniciou na época da pandemia e continua até hoje.
“Porque nós e a equipe do cemitério entendemos que nesse momento que a pessoa
perde alguém, ela tem o direito de chorar, de falar, a um grito de dor. Essa
lágrima, esse grito, precisa de alguém que acolha, que escute, que reconheça,
que esteja presente. Isso nem sempre é possível nas famílias ou com os amigos.
Eu realizo esse trabalho de suporte para essas pessoas”, citou.
“Quando um luto começa na
vida de uma pessoa? Quando a pessoa amada, significativa, vai embora
definitivamente, quando não tem volta. Quando a pessoa enlutada se dá conta
dessa perda, sofre muito. Se perde aquele olhar, aquela palavra, aquela vida
construída junta. Entra como que num túnel escuro, um túnel onde só cabe ela
mesma com a sua dor. Nada existe ali nem ninguém. Só existe dor e silêncio.
Costumo dizer às pessoas que eu atendo que nesse túnel é preciso cavar uma
porta de saída, construir um significado que não existe, mas que precisa ser
construído por cada pessoa. Tem que se sair desse túnel. E a porta de saída só
vai ser possível se a pessoa der passos em direção a ela. Uma porta difícil de
ser aberta. A Psicologia ajuda a pessoa a abrir essa porta. A pessoa vai ter
que experimentar a vida sem aquela pessoa amada”, ressaltou a psicóloga.
E quando o luto termina?
“Quando nos damos conta que somos impotentes diante da morte. Que a morte vem e
leva e pronto. Não existe idade, classe social, classe financeira. Vem quando
tem que vir, é um mistério, não sabemos por que. O luto termina quando eu
aceito que é assim, quando saio desse lugar de querer ser dono da verdade,
porque não somos; quando saio do lugar de querer ser dono da pessoa, porque
ninguém é dono de ninguém; quando eu aceito, eu acolho e quando eu descubro que
existe uma maneira de ter essa pessoa, mesmo que não fisicamente, mas que eu
consigo, pela experiência, saber que essa pessoa está dentro do meu coração,
que não vai ser tirado por nada ou por ninguém. Um lugar onde ela não sente
mais frio, ou dor. Não sofre. Para nós que acreditamos esse lugar também é o
céu. Quando vemos que a perda, na verdade, não foi uma perda, nós conseguimos
elaborar o nosso luto. Um adolescente que perdeu a avó me disse uma vez:
‘agora, eu entendi’. Às vezes, a gente não entende mesmo que a gente saiba.
Precisa de uma compreensão no nível da experiência. Nós não só perdemos, mas
também ganhamos. Quando nascemos, perdemos o bem-estar do útero, mas ganhamos o
rosto de nossa mãe, de quem tanto esperou por nós. E assim é em diferentes
momentos da nossa vida. Nós nos focamos nas perdas e não nos ganhos. Toda a
perda é acompanhada de um ganho, assim como a morte é acompanhada da vida
eterna. Assim como perdemos a pessoa fisicamente, mas ganhamos ela no céu”,
enfatizou lindamente.