Igreja e fé fortalecem hansenianos
Comunidade São Lázaro nasceu de uma colônia
06.01.2020 - 18:20:32

Há 31 anos, uma comunidade de fé nasceu dentro de uma ???colônia de hansenianos???, a São Lázaro, que viu na fé e na Igreja a força necessária para enfrentar a doença, suas sequelas e o preconceito trazida com ela. Localizada no Setor 1 da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, a capela ganhou uma nova e bela sede em dezembro do ano passado. Em uma obra feita com o engajamento de toda a comunidade, a igreja hoje tem missa todos os sábados, às 19 horas, e segundas-feiras, às 7 horas; Novena das Mãos Ensanguentadas e Terço dos Homens.
???Ali, há Conselho de Pastoral de Comunidade constituído, Pastoral do Dízimo, Pastoral dos Coroinhas, da Criança, do Batismo, Canto, Liturgia, Catequese, ministros da Comunhão e da Palavra???, informa o padre José Nilson Santos, coordenador do Setor 1. Os missionários da Diocese de Ponta Grossa Flávia Carla Nascimento, Iuri Nack Buss e André Emanuel França, dentro da programação deste mês na prelazia, visitaram vários moradores na comunidade, muitos, portadores da doença, ainda que controlada, mas com sequelas visíveis. Antes de embarcar para Lábrea, o grupo esteve no Centro de Assistência Especializada obtendo informações sobre as principais doenças existentes no Amazonas, em especial, a Hanseníase.
Depois desse contato com a realidade dos moradores, os missionários acharam por bem conhecer o trabalho do Centro de Controle de Tuberculose e de Hanseníase de Lábrea, que funciona como referência no tratamento das doenças desde o ano passado. Isso porque foi em março de 2019 que ocorreu a entrega do novo prédio do serviço que, antes, funcionava em uma única sala, com três funcionários. Em Lábrea, ano passado, foram 11 casos de Hanseníase diagnosticados, seis deles na zona rural. 15 pacientes estão em tratamento, número superior ao coeficiente considerado aceitável pela Organização Mundial da Saúde, de um doente para cada dez mil habitantes. A cidade tem em torno de 44 mil habitantes.
Ainda que seja a doença infecto-contagiosa mais antiga da Humanidade, a Hanseníase é desconhecida da maioria da população e tratada com muito preconceito. Segundo a enfermeira Dayane Oliveira, na zona rural está o maior número de casos de Hanseníase. ???A logística não é fácil. Não temos unidades de saúde fora da cidade, o custo é alto para irmos até o interior, aos ramais. Foram três casos novos, que vieram por conta. Entre os ribeirinhos a situação é a mesma???, explica, citando que as ações nessas localidades são programadas para o Verão. Socorro Carvalho, técnica em imobilização ortopédica, que trabalha há 32 anos no setor, ressalta que o risco da doença é grande somente quando ela é da forma Multibacilar. ???O que não acontece aqui. Os casos verificados aqui são Paucibacilar, quando as pessoas não são capazes de transmitir a bactéria???, afirma. A cada caso da doença confirmado, outras dez pessoas têm o risco de manifestar a Hanseníase.
Este mês, durante a Campanha Janeiro Roxo, entre dois e três agentes de saúde das cinco unidades receberão treinamento para aprender a realizar o exame de pele e a abordar os pacientes. ???Temos uma linha a seguir e o pessoal das unidades de saúde será capacitado para identificar as manchas, saber perguntar, lidar com com o paciente, tudo para que o testes sejam feitos na própria unidade. Isso nos fará ganhar tempo???, comenta Socorro. Além disso, ações educativas são desenvolvidas junto ao público em geral, escolas, Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, acrescenta a enfermeira Dayane.
No centro, trabalham, além de Socorro e Dayane, uma assistente social, uma fisioterapeuta e, esporadicamente, um médico. Ao lado do diagnóstico e tratamento, inclusive com a cessão gratuita de medicamentos e próteses, os funcionários fazem adaptações em objetos, utensílios, como escovas de dentes, esponjas de banho e canecas, facilitando por intermédio de velcros e imãs o manuseio pelos doentes sequelados. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, via Fundação Alfredo da Matta, no Amazonas foram detectados 411 casos novos em 2018, e, 459, em 2017. Em Lábrea, desde 1985, dois mil pacientes receberam alta.